quarta-feira, janeiro 11, 2012

A garota e a janela






















Era ela, sem sombra de dúvidas. Com seu caderno de rascunhos e algumas coisas que ainda a pertenciam, ela se sentava na janela e observava. De fato aquela janela era única, não havia nenhuma no mundo inteiro que se pudesse observar toda a cidade e todas as estrelas. Eu ia observar a garota toda noite. Não a conhecia e também não esperava conhecer. Vê-la toda noite em sua janela já era o bastante. Eu aprendi a respeitar os gostos daquela garota, aprendi também que ela se encantava por uns certos olhos cor de mel que a deixavam sem chão. Aprendi que ela odiava frases feitas, que ela não era movida de planos, e que planos a deixavam enjoada. Sua janela não era alta o bastante para matá-la, caso ela caísse, apenas alguns ferimentos leves e mais nada. Só que naquela noite em especial, ela queria que a queda a matasse. A garota chorava, e eu apenas a observava sem entender o porquê de tanto choro. Ouvi um barulho de uma buzina de trem e me virei para ver o estado em que a garota se encontrava e me espantei ao vê-la chorando mais ainda. Ela soluçava. Talvez ela tivesse que estar naquele trem, mas não estava. Coitada, senti meus olhos se encherem de água e quando vi essa água toda já estava transbordando. Sequei minhas lágrimas e foquei na garota. Deve ter sido num momento de raiva, pois eu a vi tocar algo no chão e aquele algo se quebrar. Alguns minutos depois me recordei de um pequeno frasco de perfume que a garota levava em mãos. Aquele aroma devia lembrá-la de uma aparente felicidade que havia acabado recentemente. A garota já estava com seus olhos vermelhos de tanto chorar e pesados de sono. Mas ela se manteve sobre a janela até que o sol começou a nascer. Foi ai que eu vi a minha garota descer da janela, e pela primeira vez fechá-la. Eu nunca mais a vi sobre a janela. E aquela janela nunca mais se abriu. Dias depois liguei a TV e ouvi um noticiário de uma garota que havia se tocado de sua janela, e morrido… Bianca Scottá

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