sexta-feira, junho 08, 2012

Eu e meus livros. Que virou nós e nossos livros






















Eu gostava mesmo era de ler, ficar em casa debaixo das cobertas lendo um livro e ouvindo musica, e sempre sozinho. Amigos? muitos. E nenhum que gostasse do mesmo que eu, meus amigos gostam mesmo de virar as noites se divertindo, e eu sempre preferi meu canto, minha casa, meu livro. Já me disseram que é estranho um adolescente de 17 anos ficar em casa em vez de sair pro carnaval. Sempre meio poeta, gostava de Caetano Veloso e um pouco de romance, até acreditava no amor, e nunca encontrei alguém como eu. “Precisa namorar“ - disse conversando com meu amigo, um daqueles que gostam de virar a noite com um copo de cerveja. “É cara, ficar em casa com seus livros não vai atrair ninguém.“ Eu duvidava, era alguém como eu ou não era ninguém. Eu precisava de alguém com alma de poeta, ou melhor, poetiza, alguém que seu melhor amigo é o livro, alguém assim conseguiria me entender. Nas tarde que me sentia só, ia sempre a livraria. Não dava para se sentir só em meio a tantos livros, palavras escritas ocupam espaços vazios do coração, aprendi isso lendo. Conhecia todos da livraria, desde dos funcionários até quem frequentava sempre a livraria. “Qual seu autor preferido?“ - Disse de repente uma baixinha de cabelos vermelhos, nunca a tinha visto ou falado. Olhava pra mim com cara de curiosidade. “Charles bukowski.“ “Gosta da escrita revoltada dele? eu adoro.“ “É sim, combina comigo.“ “ Você tem cara de gosta de romance.“- ela sorriu olhando para os livros da prateleira. “Leio as vezes“ - é nessas horas que meu machismo aparece, sou homem e tenho vergonha de dizer que gosto de ler romances melosos. Ela ri, achei gostoso como ela ri como se não se importasse de rir abertamente. “Alguns garotos tem receio de dizer que gostam de romances.“ Fui pego no flagra. Certamente ela percebeu minha cara, fazendo força para não rir. Acabamos rindo juntos, até a gerente velha da livraria reclamar do barulho. Ela era baixinha, 10 cm a menos que eu, cabelos rebeldes e vermelhos e muito bonitos, usava camiseta de banda e a cara não enganava, ela tinha uma revolta interna. “Você não disse seu nome.“ “Me chama de Junior“ “O meu é Julia.“ “Nossos nomes combinam, não acha?“ O comentário deixou ela com as bochechas rosadas. Ela ficava bonita corada e comecei a rir. “Ei, não ria. Odeio ficar corada“ - Ela riu comigo. - “Tenho que ir, Júnior. Espero te ver de novo.“ Todas as tardes nos encontrávamos na livraria, tomávamos café, e o nosso melhor assunto era livros. Ela era apaixonada por livros tanto como eu. A primeira vez que a beijei foi na porta da casa dela, tirei coragem da onde não tinha. Ficamos na praça até tarde e a levei para casa. Ela já esperava pelo beijo, ficou na minha frente e me deu um beijo no rosto e sorriu, e eu a beijei no lábios, foi os lábios mais doces que eu já beijei. Ela corou e abriu a porta da sua casa, mas depois voltou e me beijou de novo. Fui para casa com um calor diferente no peito. Finalmente a encontrei - eu pensei. Nosso namoro nunca foi um problema, eu ia a casa dela, ela ia na minha, nos encontrávamos na livraria e na praça. As vezes a gente brigava e ela fazia biquinho, e nossas discussões não acabava em beijos e muito menos na cama, acabava em choro. Eu conhecia o poder das palavras e ela também conhecia, muitas vezes nos magoamos, e sempre voltávamos. Ela era melhor do que imaginava, e as vezes pior. Ela tinha alma de poeta como eu queria, mas era feroz e me machucava; eu tinha meu lado egoísta e ciumento e a machucava. Mas nos curar era a melhor parte, eu recitava um poema e ela completava. As palavras nos uniram, nos separavam e nos uniam de novo. Kássia Ferreira

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