quinta-feira, janeiro 09, 2014

Felicidade não se encontra no cabide


Mal interpretado, mal amado, mal humorado, mal amado e mal arrumado. Assim, meio desleixado, abatido e sem rumo, saiu pela cidade afora. Caminhou, foi à praça, sentou-se. Levantou, foi ao bar, sentou-se, bebeu. Levantou-se, foi à praia, sentiu a areia nos pés, sentou-se sobre a areia, olhou o mar. Levantou-se, foi para casa. Na sala, um porta-retratos, no porta-retratos, uma foto, na foto, uma recordação. A imagem de um jovem rapaz, feliz, sorridente, pele clara e roupa de marinheiro. O mar como plano de fundo. Era ele, vinte anos atrás, marinheiro. Hoje, noite de sábado, sozinho, idade avançada, sozinho, cheirando a álcool, sozinho, transbordando sentimentos e sensações. Sentou-se no sofá, demorou uns minutos. Levantou-se, foi até a escrivaninha. Era poeta, dos falidos, mas era. Pegou caneta e papel e em questão de minutos, lá estavam seus versos, retratando a angústia da solidão. Era poeta, sofria, fingia, aparentemente estava tudo muito bem, mas sofria. Levantou-se, foi ao quarto, abriu a porta do guarda-roupa. Vasculhou, revirou, bagunçou e não encontrou o que procurava. Felicidade não se encontra no cabide.

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